Após dois dias descansando em Saint Jean Pied de Port, no terceiro dia acordei cedo, tomei um bom café da manhã no albergue, arrumei minhas coisas e desci a Rua da Citadela em direção à igreja de Notre-Dame, onde eu faria uma oração pelo início de minha jornada, e deixaria a tradicional velinha vermelha, a vela da bênção e da proteção aos peregrinos.
De lá, atravessei a Porta de Notre-Dame, algumas fotos, depois a ponte, e segui para o que considerei uma duríssima etapa até o Refúgio Orisson. As subidas são íngremes, muito íngremes, primeiro pelo asfalto até as cercanias de Saint Jean, depois algumas trilhas, e novamente asfalto, e levei quase seis horas para percorrer apenas 8 Km. Tava mesmo fora de forma...
Mas a paisagem, na medida em que você começa a subir a base dos Pirineus ainda com um visual de belas florestas, fica cada vez mais bonita e não há como não parar para admirar a cidadezinha de Saint Jean ao longe, os cumes nevados ao longe e as belas florestas. Uni o útil (descansar de subidas íngremes) ao agradável (a vista cinematográfica do sul da França), e assim fui caminhando até Orisson, onde cheguei no final da tarde.
A recepção no Refúgio é calorosa, mas lembro que é necessário fazer reserva antes de sair de Saint Jean Pied de Port (https://www.refuge-orisson.com/en/), senão não se consegue lugar (beliche), especialmente a partir de maio até agosto, época de muito movimento de peregrinos (primavera e verão na Europa).
As pessoas são muito simpáticas, te recebem muito bem, e os quartos, todos compartilhados com 4 ou 8 beliches cada, muito confortáveis. O banheiros também são coletivos, separados entre homens e mulheres óbvio, e a parte engraçada: você recebe uma moedinha para inserir no chuveiro e fazê-lo funcionar. O funcionário diz que você tem 10 minutos para o banho, só que na verdade são apenas oito minutos. Vi alguns sul-americanos gritarem “puuuuuuta-maaaaadre!!!!!”, ainda ensaboados e sem saber o que fazer (como sigo a filosofia de que boi na terra dos outros é vaca, fiquei quieto e ensaboado, tremendo de frio e agarrado à toalha)...
O jantar, incluso na diária de €14,00 (na época), só é servido quando todos os hópedes estão prontos na grande sala, com longas mesas de madeira medievais onde todos se sentam lado a lado para uma grande confraternização. Há inicialmente uma sôpa (maio ainda é frio por lá), depois uma comida típica espetacular que deixo para que os leitores descubram por si, e uma taça de vinho tinto francês incluso na refeição. Pode-se comprar a garrafa, por apenas, pasmem: €8,00!!
Após o jantar, um bate papo com pessoas de diversos países e depois cama (muito confortável mesmo), porque o outro dia seria mais uma etapa difícil: subir a 3.700 metros e cruzar os Pirineus, em direção a Roncesvalles.